O assassinato de Kirk e o crescimento da violência política nos EUA
Novos casos mostram que fenômeno, apesar de já existente no cenário político americano, ganha nova proporção com redes sociais e polarização
Por Fernanda Simas
Nesta terça-feira, Tyler Robinson, de 22 anos, foi acusado de homicídio qualificado pelo assassinato do ativista conservador Charlie Kirk na semana passada, o mais recente caso de violência política nos Estados Unidos desde a disparada dos casos em 2016. Segundo analistas, apesar de esse tipo de violência não ser novidade no país, a diferença é que agora os casos não são isolados e apresentam um teor mais extremista.
“Não é um fenômeno novo, sempre tivemos casos de atentados contra politicos, com alguns emblemáticos”, explica a professora de relações internacionais da ESPM Denilde Holzhacker, analista de Estados Unidos. “Esse contexto de violência sempre esteve na política americana. A diferença é que a polarização e o maior extremismo geram reações mais violentas e contínuas, não são mais casos isolados”, afirma.
Kirk, de 31 anos e aliado próximo do presidente Donald Trump, morreu após um ataque a tiros no dia 10 de setembro durante um evento em uma universidade de Utah. Ele era o fundador do grupo político juvenil conservador Turning Point USA.
Segundo as autoridades, Robinson utilizou um rifle com mira telescópica para matar Kirk com um tiro no pescoço a partir de um telhado. Foi preso após 33 horas de perseguição. Ao todo, Robinson responderá à Justiça por sete acusações.
Desde a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, segundo estudos citados pela imprensa americana, mais de 300 ações violentas com motivação política foram registradas nos EUA. A situação faz com que voltemos à violência política das décadas de 1960 e 1970 no país, no entanto, agora temos presente o elemento “redes sociais”, que disseminam as mensagens de forma muito mais rápida.
Nos últimos anos, houve um tiroteio em um prédio do CDC, o assassinato da representante estadual de Minnesota, Melissa Hortman, e do marido dela. O ataque incendiário à casa do governador Josh Shapiro, na Pensilvânia. E também a violenta agressão contra Paul Pelosi, marido da democrata Nancy Pelosi, em sua residência em 2022. Além disso, houve a tentativa de assassinato de Trump ao longo da última campanha presidencial.
Discurso de ódio
Kirk era um forte defensor da Segunda Emenda, o direito de portar armas, ajudou Trump a conquistar o voto jovem nas duas eleições que o presidente ganhou, adepto do movimento MAGA (Make America Great Again) e chegou a acompanhar a invasão ao Capitólio em loco.
Segundo a Promotoria, o acusado confessou que cometeu o crime em razão do discurso de ódio. “Por que você fez isso?”, disse o promotor, citando as mensagens enviadas por um colega de quarto a Robinson. “Estava cansado do ódio dele (Kirk). Há ódio que não pode ser negociado”, respondeu o suspeito.
O discurso de ódio político está presente nas falas do presidente Trump e de parlamentares americanos. Geralmente, após algum ato de violência - como ataques a tiros -, presidentes realizam discursos pedindo unificação, não foi o caso agora.
Trump não fez questão de baixar a retórica, pelo contrário. Antes mesmo de saber quem era o suspeito pelo crime, disparou contra o que chamou de “esquerda radical”. Do outro lado, houve quem comemorasse o ataque e a morte de Kirk - ato que contribui para a erosão da democracia.
Eleições de meio de mandato
A proximidade das eleições de meio de mandato pode piorar o clima político e levar a mais violência. Democratas e republicanos se preparam para a votação do ano que vem, que será uma espécie de referendo sobre a atuação do presidente Donald Trump até aqui.
Para a professora Holzhacker, as ações para mudar o desenho nos Estados americanos podem levar a um aumento nos discursos mais inflamados.
A investida de Trump contra cidades dominadas por democratas já faz parte desse contexto eleitoral e está dentro da lógica da polarização. “Tem outro componente: trazer para o imaginário da opinião pública americana que aquelas são cidades mais violentas e é preciso ter alguma forma de controle. É uma ação que infla polarização”, afirma Holzhacker.
Outro impacto da violência política atual pode ser sentido nas universidades, já muito atacadas desde que Trump assumiu novamente o poder. O fato de o ataque ter ocorrido dentro de uma universidade, explica a professora, pode pressionar ainda mais essas instituições.
Deixo abaixo um trecho da resposta da professora Denilde Holzhacker sobre a situação das universidades, que já vinham sendo alvo do governo Trump, após a morte de Kirk:
Nepal vive uma semana de protestos, repressão e troca de primeiro-ministro
Na semana passada, o Nepal viveu, talvez, os protestos mais intensos de sua história, que culminaram na queda do primeiro-ministro, em muita destruição e mortes. Os “protestos da geração Z” começaram a diminuir no sábado, um dia após a nomeação de Sushila Sarki como primeira-ministra interina.
As manifestações, conduzidas por jovens nascidos entre o fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, eclodiram após a suspensão de 26 redes sociais sob a justificativa de que estavam sem registro nacional. Os críticos da decisão - revertida no mesmo dia em razão dos protestos - afirmam que a intenção era censurar a campanha que vinha denunciando gastos exorbitantes de filhos de políticos.
Na capital, Katmandu, a presença de soldados e tanques só começou a diminuir no sábado e lojas e templos reabriram. Karki, ex-presidente da Suprema Corte, tornou-se a primeira mulher a comandar o governo do Nepal, com a promessa de restaurar a ordem e combater a corrupção, principal reivindicação dos manifestantes.
O Parlamento foi dissolvido e novas eleições legislativas vão ocorrer em 5 de março de 2026.
O premiê deposto, KP Sharma Oli, fugiu e seu paradeiro não é conhecido. No começo dos protestos, Oli ordenou uma forte repressão, que deixou ao menos 19 mortos e centenas de feridos, gerando mais indignação popular e mais manifestações.
O pano de fundo dos protestos mostra uma forte crise econômica e muitas denúncias de corrupção. Mais de 20% da população entre 15 e 24 anos está desempregada, segundo dados do Banco Mundial, e o PIB anual por habitante do Nepal é de apenas US$ 1.450. Quando se trata de política internacional, no Nepal estão em conflito interesses da China e da Índia.
Israel inicia ofensiva terrestre para tomar Cidade de Gaza
O Exército de Israel iniciou nesta terça-feira a grande ofensiva terrestre que vinha prometendo na Cidade de Gaza, apesar das crescentes críticas internacionais pelo destino da população do território devastado - e dias depois do ataque israelense a uma delegação do Hamas que estava em Doha para negociações de um cessar-fogo.
A ofensiva começa no momento em que a ONU publica um relatório de uma comissão de investigação acusando Israel de cometer genocídio em Gaza, responsabilizando o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e outras autoridades israelenses.
"Não cederemos e não recuaremos até que a missão seja cumprida", afirmou o ministro da Defesa israelense, Israel Katz.
Ao longo da última semana, a tensão no Oriente Médio ganhou um novo capítulo, quando Israel atacou a delegação do Hamas que estava em Doha, no Catar, para negociar com delegações israelenses um cessar-fogo em Gaza. O Catar não possui relações diplomáticas com Israel, mas é grande aliado dos Estados Unidos, e sedia a maior base militar americana do Oriente Médio.
O ataque matou cinco integrantes do Hamas. O presidente Donald Trump chegou a declarar descontentamento com a ação israelense.
Desde o início da ofensiva em Gaza, Israel atacou Irã, Síria, Líbano e Iêmen.
Katz prometeu que "o longo braço de Israel agirá contra seus inimigos em qualquer lugar". "Todos que participaram no massacre de 7 de outubro serão considerados plenamente responsáveis", acrescentou, em referência aos atentados terroristas do Hamas contra Israel em outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza.
O Catar abriga, desde 2012, a sede do escritório político do Hamas.
Com esse ataque, as perspectivas de que houvesse um acordo de cessar-fogo ficam ainda mais distantes.
Otan e União Europeia se preocupam com segurança após incursão de drones russos na Polônia e na Romênia
Na Europa, a tensão também aumentou desde a semana passada com cerca de 20 drones russos entrando no espaço aéreo da Polônia - e sendo derrubados por Varsóvia - e um entrando no espaço aéreo da Romênia no fim de semana. A Otan decidiu, então, reforçar suas defesas no flanco leste e a União Europeia alertou para o risco à segurança do território do bloco.
Vários países europeus, como França, Alemanha e Suécia, anunciaram que reforçarão sua contribuição para a defesa aérea da Polônia em sua fronteira oriental com a Ucrânia e Belarus.
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, citou no X a "ameaça representada pelos drones russos que operam sobre a Ucrânia, perto da fronteira polonesa" no sábado. O espaço aéreo do aeroporto de Lublin, no sudeste, foi fechado e vários voos tiveram que ser desviados ou sofreram atrasos.
A Romênia denunciou a invasão de um drone russo em seu espaço aéreo, que foi derrubado, no fim de semana.
Desde o início da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022, vários drones e mísseis lançados por Moscou entraram no espaço aéreo de países-membros da Otan. Mas esta foi a primeira vez que uma nação da aliança militar do Atlântico Norte derrubou os dispositivos. A Polônia tem sido um apoio crucial para a Ucrânia desde o início da invasão russa.
O presidente americano, Donald Trump, disse, na quinta-feira, que a suposta incursão dos drones pode ter ocorrido por "erro".
EUA X Venezuela
A crise entre Estados Unidos e Venezuela continua desde que o governo de Donald Trump classificou grupos narcotraficantes como terroristas, entre eles o Cartel de los Soles, do qual acusa Nicolás Maduro de ser o líder. A nova classificação permite que Washington tome outras medidas para combater tais grupos.
Nesta terça, Trump afirmou que os EUA já eliminaram três embarcações em frente à Venezuela. "Parem de enviar drogas para os EUA", disse o presidente americano, ao ser questionado por um jornalista sobre a mensagem que ele queria enviar a Maduro.
A Venezuela denunciou no sábado que uma embarcação americana manteve retido por oito horas um barco pesqueiro que navegava em águas venezuelanas.
Nas últimas semanas, os EUA deslocaram oito navios para o sul do Caribe para o que definiram como manobras contra o narcotráfico internacional, uma ação que provocou novas tensões com Caracas.
"O navio de guerra mobilizou dezoito militares com armas longas que abordaram e ocuparam a pequena e inofensiva embarcação durante oito horas", informou uma nota do governo venezuelano, que chamou o caso de "provocação direta através do uso ilegal de exagerados meios militares".