URGENTE: Hamas aceita libertar todos os reféns e deixar poder em Gaza
Grupo responde a plano de paz de Trump, mas deixa em aberto deixar as armas e pede para negociar alguns pontos do possível acordo
Por Fernanda Simas
Faltando quatro dias para os ataques terroristas do Hamas em Israel completarem dois anos, o grupo se pronunciou sobre o plano de paz apresentado por Donald Trump no dia 30 de setembro, na esteira da Assembleia-Geral da ONU. “O movimento anuncia a sua aprovação para a libertação de todos os reféns - vivos e restos mortais - segundo a fórmula de intercâmbio incluída na proposta do presidente Trump”, disse o Hamas, em um comunicado publicado nesta sexta-feira, 3.
O grupo admitiu, ainda, deixar o poder na Faixa de Gaza, desde que o comando do território palestino seja entregue “a um corpo palestino de tecnocratas independentes, com base no consenso e no apoio árabe e islâmico”. Esse é um dos detalhes que podem fazer diferença para saber se esse plano sairá de fato do papel. Pelo documento apresentado pelo presidente americano, a ideia era que o poder em Gaza passasse por um Conselho da Paz, liderado por Trump.
“Querem (o Hamas) negociar alguns detalhes, alguns pontos. Perceberam que não têm mais o apoio dos governos muçulmanos, árabes principalmente, como tinham e que era essa saída ou continuar (a guerra)”, afirmou o professor de relações internacionais da ESPM-SP Gunther Rudzit. “Como vão ser essas negociações e esses detalhes, isso está totalmente aberto”.
Não ficou claro no comunicado do Hamas desta sexta se o grupo vai entregar as armas - outra das exigências presentes no plano de 21 pontos apresentado por Trump, e aceito pelo primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu.
Horas depois do anúncio do Hamas, Trump afirmou acreditar que o grupo “está pronto para uma paz duradoura” e exigiu que Israel pare os bombardeios em Gaza. De acordo com jornais israelenses, o governo Netanyahu ordenou, então, as medidas para a implementação da primeira fase do acordo e pediu a diminuição das ações em Gaza.
Impacto em Israel
Mas ainda é preciso entender como essa resposta do Hamas afetará o governo Netanyahu e, principalmente, o que o grupo vai exigir a partir de agora. ”Foi um grande avanço, uma vitória muito grande para o presidente Trump”, diz Rudzit. “Agora, vamos ver como vão ser essas negociações, mas principalmente a dinâmica interna em Israel, como será a reação da extrema direita de Israel”, acrescenta.
Essa era uma preocupação que vinha sendo levantada desde a coletiva dada na segunda-feira entre Trump e Netanyahu. Como o plano seria levado à base do governo de extrema direita israelense - que vem há meses falando em um plano de expandir os assentamentos na Cisjordânia e o controle sobre Gaza. Essas declarações, inclusive, são uma das justificativas dadas pela ONU e por grupos jurídicos e de estudiosos do genocídio para classificarem a ofensiva de Israel em Gaza como genocídio.
“Dependendo do que o Netanyahu propuser, o governo pode até cair”, afirma o professor Rudzit. Em um artigo recente, Thomas Friedman afirmou que quando se trata das decisões de Israel e do Oriente Médio em geral, “o que as pessoas dizem em particular é irrelevante. Tudo o que importa é o que elas dizem em público para seu próprio povo, em sua própria língua”.
Esse é um ponto levantado há tempos no podcast Do Lado Esquerdo do Muro, que sempre traz a diferença na tradução de detalhes do que integrantes do governo Netanyahu anuncia em inglês e em hebraico.
O líder da oposição de Israel, Yair Lapid, pediu que o governo Netanyahu se una às discussões lideradas por Trump “para acertar os últimos detalhes relacionados ao acordo”. Lapid prometeu cobertura política ao premiê, caso ele encontre resistência de ministros radicais, talvez evitando uma queda.
A Carta continuará acompanhando os próximos passos desse acordo e as negociações entre Hamas e Israel.